HOMO LUDDENS

ALMANAQUE ARMORIAL

Posted in literatura, Uncategorized by ! on outubro 10, 2008

Neste romance se vê
luta, batalha e terror;
força, coragem e vingança,
bravura, honra e critério,
ódio, triunfo e amor.

No mesmo assunto eu descrevo
uma história verdadeira,
falando sobre o barão
pai de uma filha solteira,
conhecido ali, nas zonas,
pelo “terror da ribeira”.

Motivado por um comentário feito no Balaio há algumas semanas, adquiri por estes dias o livro “ALMANAQUE ARMORIAL“, de Ariano Suassuna. Trata-se da reunião de alguns de seus ensaios, escritos entre a década de 60 e o ano 2000. A organização e seleção é de Carlos Newton Júnior, que procurou prezar pela variedade, incluindo, desse modo, os textos do autor sobre teatro, cinema, artes plásticas, estética, língua portuguesa etc., sem esquecer a ” indispensável categoria dos “casos inventados”. Um segundo critério buscou priorizar aqueles ensaios que versassem sobre assuntos ligados ao universo maior da cultura brasileira.

Quanto ao título, diz Carlos Newton, que esse faz alusão, “em primeiro lugar, aos “almanaques” sertanejos que Ariano conheceu já na infância , passada no sertão da Paraíba, publicações em que os conhecimentos tradicionalmente vinculados à sabedoria popular eram apresentados sob forma pretensamente científica, espécies de súmulas do conhecimento universal motivadas por um pletórico e irrefreável desejo enciclopédico de abarcar os enigmas do mundo. Quanto ao adjetivo que o compõe, remete-nos ao Movimento Armorial, lançado no Recife, a 18 de outubro de 1970. Idealizado por Suassuna com o objetivo de criar uma arte erudita brasileira a partir das raízes populares da nossa cultura.”

Eu pouco sei sobre o Movimento Armorial, Ariano Suassuna e afins. Desconheço as polêmicas que envolvem o seu nome. Mas mantenho um interesse muito sincero e vivo pelas coisas do Sertão. Talvez pela minha condição de faminto terceiro mundista, ou mesmo, por ser um migrante na metrópole. Não foram poucas as vezes que evoquei Fabiano. Em outros momentos optei pela imagem de um Hércules-Quasímodo, ao gosto de Euclides da Cunha. E, recentemente, fui envolvido pela prosa de Antônio Torres.

Dado o meu interesse, afirmo que tem sido muito proveitosa a leitura que faço dos ensaios de Suassuna. Vez ou outra surpreende-me as suas afirmações sobre determinados livros ou autores, mas não vem ao caso citá-los nesse momento. Se resolvi escrever sobre o livro aqui foi para indicar a leitura de um dos ensaios, intitulado “Encantação de Guimarães Rosa”, de 1967.

No ensaio mencionado, Ariano Suassuna procura situar a grande obra prima que é “Grande Sertão: veredas” no universo mais amplo da literatura brasileira. Diz o autor que, “longe de ser um acidente ocasional em nossa Literatura, João Guimarães Rosa é um escritor profundamente brasileiro, que somente no Brasil poderia ter feito o que fez.” Segue assim suas comparações, citando estilos, autores e livros que, ao ver de Suassuna, são imprenscidíveis para uma melhor compreensão crítica de Grande Sertão. 

Para Ariano, Rosa é o típico escritor do barroco brasileiro, pertencente à mesma linhagem de Euclides da Cunha. Enquanto o último faz parte “da linhagem ibérica e épica das novelas de cavalaria” aproximando-se muito mais “do estilo afortalezado e castanho das capelas do barroco sertanejo e da “civilização do couro””; o primeiro, é “descendente da Demanda do Santo Graal ou da Donzela que vai à guerra” completando assim o “ciclo de ouro” das Minas Gerais, “entrando numa comunhão harmoniosa com as igrejas ou a música mineira do século XVIII.” Segundo o autor, o sertão mineiro é mais parecido com a Zona da Mata do que com “o verdadeiro sertão nordestino”. A paisaigem do Grande Sertão é muito mais cheia de árvores, bosques e rios do que o deserto pedregoso e áspero de um Cariri, Moxotó e Pajeú.

Eu nada sei, mas desconfio de muita coisa. Confesso que por alguns momentos acreditei que a reverência prestada pelo autor ao Grande Sertão pudesse ser abalada. Sendo a obra de Guimarães Rosa, segundo Ariano, mais próxima da “civilização do açúcar” do que a “civilização do couro”, temi que todas essas comparações pudessem desembocar na oposição entre sertanejo forte e o mestiço neurastêmico do litoral. Não foi esse o caso. Para o escritor pernambucano Grande Sertão é “obra requintada, profunda de significado; perfeita”. Elevou a literatura brasileira à “plena confirmação de sua grandeza.”

Como diz Suassuna, resta lembrar que, sendo tantas coisas, ainda é ele, uma cantiga de cangaceiros, um romance de cordel. Muitas das estórias contadas por Riobaldo fazem parte do repertório do romanceiro popular nordestino. É o caso, por exemplo, do romance de origem ibérica, a “Donzela que vai à Guerra” que, segundo Suassuna, ainda na época que escreveu o ensaio, era cantado no Sertão. 

Não me incomoda a maneira com que Suassuna conduz o seu ensaio, procurando promover o diálogo de Guimarães Rosa com outros autores. O fato dele estar “profundamente inserto na tradição da literatura brasileira, não diminui a novidade nem o gênio do autor.” Pelo contrário, acredito que possíveis aproximações somente despertam o meu desejo de conhecer ainda mais o Grande Sertão: veredas.

[SUASSUNA, Ariano. Almanaque Armorial/Ariano Suassuna; seleção, organização e prefácio Carlos Newton Júnior. – Rio de Janeiro: José Olympio, 2008.] 

 

GRANDE SERTÃO: VEREDAS

Posted in literatura by ! on outubro 1, 2008

 

[RIOBALDO, de Douglas Thomaz]

 

 

GRANDE SERTÃO: VEREDAS

(“O diabo na rua, no meio do redemoinho…”)

SENSACIONAL. ESTRANHO. PODEROSO.

 

Sendo um amor o impossível. Onde narra a sua vida o ex-jagunço Riobaldo. O sertão está em toda parte. Dois meninos atravessam o São Francisco numa canoa. A forca particular. O escrito que veio da matriz Itacambira. Nhorinhá, a linda, rapariga perdida no ser do sertão. Os cavalos na madrugada. Diadorim e Otacília. Seja ciúme, amor, ódio e sangues. A carne do homem que não era macaco. Na Guararavacã do Guaicuí do nunca mais. Carece de ter coragem. Carece de ter muita coragem. Rosa’uarda, moça turca. Um homem desceu o rio Paracatú, numa balsa de burití. À meia-noite, nas Veredas Mortas. O que apareceu montado na égua. O leproso trepado na árvore. Seis chefes jagunços põem outro em julgamento, na Fazenda Sempre-Verde. Episódio de Maria Mutema e do Padre Ponte. A matança dos cavalos. De como Indalécio e Antônio Dó invadem a cidade de São Francisco. A canção de Siruíz. O sofrer de dois amores. Morte de Medeiro Vaz – o rei das Gerais. O Sertão é dentro da gente. A mulher presa no sobrado. Nos campos de Tamanduá-tão: foi grande batalha.   

 

Nota: Aos leitores, e aos que escreverem sobre este livro, pede-se não revelar a sequência de seu enredo, a fim de não privarem os demais do prazer de descoberta do GRANDE SERTÃO: VEREDAS.     

 

 

[Nota inteiramente redigida por João Guimarães Rosa para anunciar Grande Sertão na orelha de um dos seus livros]

GUIMARÃES ROSA

Posted in literatura, Sertão, Uncategorized by ! on agosto 30, 2008

Capa de Poty.

“As ancas balançam, e as vagas de dorsos, das vacas e touros, batendo com as caudas, mugindo no meio, na massa embolada, com atritos de couros, estralos de guampas, estrondos e baques, e o berro queixoso do gado junqueira, de chifres imensos, com muita tristeza, saudade dos campos, querência dos pastos de lá do sertão…”

[ROSA, João Guimarães. In: Sagarana; “O burrinho pedrês”, José Olympio Editora, 1964.]